Com facilidade para fazer amizades, o empreendedor foi sócio de várias casas noturnas, antes de entrar para um grupo de hospitais e partir para a publicação de livros, trazendo sucesso e crescimento em todas as áreas por onde passou
Mudar totalmente de área, indo do entretenimento para a saúde, chegando finalmente ao mercado editorial, lidando com públicos em situações inteiramente diferentes, com desafios diferentes, porém com objetivos semelhantes. Nem todas as pessoas estão preparadas ou aceitariam um desafio como esse, mas foi esta a trajetória percorrida por Betinho Saad, fundador da UICLAP, plataforma digital que permite que os autores publiquem suas obras e as comercializem sem nenhum custo.
Formado em Administração de Empresas, com pós-graduação em Gestão Contábil e Financeira pela FAAP, trabalhou por quase 10 anos na área do entretenimento. “Sempre gostei de conhecer pessoas novas e tenho facilidade para fazer novas amizades, talvez esta seja minha principal característica. Acredito que, justamente por isso, acabei indo trabalhar aos 18 anos como promoter de baladas, era quase que a profissão perfeita pra mim, convidar os amigos para curtir o final de semana e ainda receber uma grana para isso”, conta Saad.
Com o passar dos anos, seu círculo de amizades cresceu, o que ampliou sua capacidade de lotar casas noturnos. Assim, acabou sendo convidado, aos 24 anos, para ser sócio de um Dining Club muito famoso na época em São Paulo. Seu papel dentro da sociedade era manter o local cheio em todos os finais de semana, o que, para um jovem inexperiente, se mostrou um grande desafio: “Como colocar 500 pessoas por dia em um estabelecimento? Fui obrigado e desenvolver estratégias, como criar um calendário de aniversários dos amigos durante o ano todo, e convidá-los a comemorar no local. Funcionava muito bem. Em uma conta rápida, um aniversariante levava em média 20 pessoas, logo 10 aniversários levariam em média 200 convidados. Com isso, resolvia metade do problema”, explica o empreendedor.
Já para atingir o restante da meta, contratava promoters, que buscavam replicar a estratégia de celebração de aniversários. Também fazia parcerias com faculdades, festas temáticas e investimento em boas atrações. No entanto, nem sempre casa cheia era sinal de faturamento. O essencial para o lucro era a venda de camarotes exclusivos ou acesso às áreas VIPS, que representava quase 50% a mais de receita. Para lucrar, era preciso vender todos. Para isso, tinham um ou dois profissionais que identificavam e cativavam clientes com esse perfil, conseguindo assim fazer a venda. Aos poucos, criou-se uma carteira de clientes com essas características, conseguindo realizar a venda antecipada dos camarotes exclusivos e acessos VIPs, diminuindo os riscos.
“Em meu segundo mês como sócio, trouxe o maior faturamento da história do estabelecimento, o que rapidamente me abriu muitas portas. Outros empreendedores do ramo me convidaram para ser sócio. Cheguei a ter sociedade ou participação em quase seis estabelecimentos em São Paulo, no interior e litoral paulista. A esta altura eu havia aprendido a tocar, portanto eu era o Dj de algumas de minhas casas”, conta Betinho.
Tudo parecia perfeito para Saad, mas a dificuldade para manter negócios no setor o incentivou a sair do segmento, aos 29 anos. Surgiu a dúvida então do que fazer a partir daquele momento, já que nunca havia trabalhado com carteira assinada. “Foi quando o sócio do meu pai me convidou para atuar na gestão de um hospital. Naturalmente, foi um choque ‘Como assim, do entretenimento para a saúde?’. Como gosto de um desafio, acabei aceitando”, afirma Saad.
Ele conta que no início sofreu com o vocabulário técnico e a formalidade, tendo que trocar o boné por roupa social. Pensou em desistir muitas vezes, mas acabou percebendo que um hospital é como outras empresas, precisa de resultado. “Uma chave virou em minha cabeça e eu percebi muitas similaridades com os negócios que eu tive. Por exemplo, um hospital vazio não irá se sustentar, assim como um night club sem movimento”, pontua.
Saad explica que em um hospital os médicos do pronto-socorro são a porta de entrada para internações e para contribuir com a ocupação dos leitos. Os promoters são responsáveis pelo movimento em uma casa noturna. A UTI é um dos principais pontos de faturamento, assim como os camarotes. Os médicos devem atender bem os pacientes nos leitos e solicitar internação dos que podem piorar. Garantir essa qualidade de atendimento e manter as UTIs cheias garantem a receita do hospital.
O empresário conta que “após quase sete anos, a operação cresceu muito e tivemos a oportunidade de realizar a venda do grupo para uma gigante no setor de saúde. Atuei na linha de frente, durante um ano e meio de intensas negociações. Depois disso, meu segundo exit aconteceu”.
Novamente ele precisava escolher o caminho que iria traçar a seguir. Estava com 37 anos, decidiu refletir e realizar um momento sabático. Desta forma, foi morar em Toronto, no Canadá, durante três meses. Aproveitou o período para usar a criatividade e pensar em um novo negócio.
Ao voltar para o Brasil, viu a notícia que a Amazon foi uma das primeiras empresas a atingir um trilhão de dólares de valuation. Ao mesmo tempo, viu que as empresas do mercado editorial estavam enfrentando dificuldades, entrando em recuperação judicial, declarando falências e saindo do país. Essas notícias levaram o empresário a refletir: “Como que pode uma empresa ter iniciado suas operações com venda de livros e ser umas das maiores do mundo e, ao mesmo tempo, a cadeia do setor estar passando tantas dificuldades?”. Com isso, passou a pesquisar o mercado editorial, percebendo as dores e necessidades do segmento, identificando oportunidades.
Para Saad, o principal ponto é a dificuldade que os escritores enfrentam quando querem publicar um livro. É um processo desgastante, burocrático, caro e excludente, que desestimula novos escritores e diminui a oferta de novos títulos ao mercado. “Mais de 98% dos conteúdos apresentados às editoras são rejeitados. O mais impressionante é que ninguém sabe de fato o que o mercado deseja. Se soubessem, milhares de best-sellers nunca teriam sido rejeitados inúmeras vezes, como “Harry Potter e A Pedra Filosofal”, rejeitado 12 vezes, antes de se tornar uma saga que já vendeu até hoje quase meio bilhão de cópias. Ou o “E Vento Levou”, “Alice No País Das Maravilhas” e muitos outros”, esclarece o empresário.
Ele defende que sofremos com uma pré-censura, já que tudo que está à venda nas livrarias, tanto físicas quanto digitais, já passaram por uma filtragem. A oferta de conteúdos que é feita para editoras e livrarias é muito maior, mas muitas obras infelizmente nunca irão para o mercado.
A fim de oferecer a oportunidade de publicar livros fisicamente, sem custos, censura ou burocracia, Saad se uniu a Rui Kuroki para fundar a UICLAP em novembro de 2019. A UICLAP é uma plataforma democrática de publicação, venda, produção e distribuição de livros físicos, sem custo para o escritor. “Tornamos o mercado editorial inclusivo e acessível. Todos podem publicar o seu livro físico e ter rentabilidade com as vendas, independente de questões socioeconômicas ou culturais”, afirma Saad.
A startup, em apenas três anos de vida, fatura milhões de reais ao ano, conta com milhares de títulos publicados e milhares de escritores com seus sonhos realizados. Ela se tornou uma forte comunidade que cresce mensalmente.
Betinho acredita que o mercado editorial e os hábitos do consumidor estão vivendo um momento de grande transformação. Isso gera a necessidade de os modelos de negócios se ajustarem. Ele revela que a UICLAP tem planos para um futuro próximo, desde oferecer novas soluções para outras personas, até se tornar uma rede social, voltada para o mercado editorial.
Sobre sua trajetória, o empreendedor acredita que voltou para o seu ramo de negócios inicial: “Penso que ainda atuo no ramo do entendimento, porém de uma forma muito mais completa, realizando sonhos, oferecendo oportunidade, distribuindo renda, disruptando um mercado. O livro oferece a experiência de viajar, nos tirar da nossa realidade, brincar com nossas emoções, sendo talvez uma das mais completas fontes de entretenimento”.
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