*Por Cris Kerr
O uso de expressões preconceituosas em nossa sociedade acontece, na maioria das vezes, sem que as pessoas tenham consciência sobre o real significado das palavras. Muitas delas chegam até nós como ditados populares, mas têm uma carga preconceituosa elevada.
Quando falamos de expressões preconceituosas estamos nos referindo aquelas que desqualificam ou expõem as pessoas ao ridículo, seja pela raça, gênero, orientação sexual afetiva, identidade de gênero, deficiência, idade, religião, cultura ou qualquer característica como sotaque, voz, estilo do cabelo ou de se vestir.
Frases carregadas de preconceito como o racismo, machismo, etarismo, homofobia, gordofobia, capacitismo (preconceito com pessoas com deficiência) e xenofobia (preconceito com pessoas estrangeiras ou de outros estados e cidades) ainda estão muito presentes em expressões do dia a dia.
Algumas delas, como “fazer nas coxas”, “a coisa tá preta”, “ovelha negra”, inveja branca”, “Ela deve estar de TPM”, “A pessoa obesa não cuida nem dela, não vai cuidar do trabalho”, “Coisa de baiano”, “Para de fingir demência”, “Não temos braço para fazer isto”, “Onde você comprou esta roupa não tinha para homem?” entre várias outras, carregam séculos de preconceito, e devem ser evitadas.
Dois pontos que precisam ser entendidos no uso de expressões discriminatórias no nosso dia a dia são estereótipos e crenças. Enquanto os estereótipos são padrões generalizados de uma sociedade, as crenças se referem ao modo como internalizamos as informações, que passam a ser percebidas como verdadeiras e repletas de certeza, confiança e segurança.
Uma vez que as crenças nos são passadas por pessoas que possuem autoridade sobre nós, como pais, familiares e professores, e nos acompanham desde a infância, estas informações ficam gravadas em nosso inconsciente e serão parte importante no desenvolvimento de nossa personalidade. É fundamental entender como o uso da linguagem pode influenciar decisões e comportamentos no nosso dia a dia, inclusive dentro das empresas.
Ainda que algumas frases não sejam ditas com a intenção de serem negativas, nosso cérebro carrega essas informações por toda a vida, já que elas ficam armazenadas desde a infância. Por isso, a linguagem pode transmitir sinais capazes de desencadear preconceitos, que é um sentimento ou opinião hostil formado antes de uma experiência ou de um conhecimento adequado.
As crenças culturais acabam afetando negativamente os grupos minorizados: mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiência, pessoas obesas entre outras.
No ambiente corporativo, a criatividade e a produtividade só são conquistadas quando as pessoas se sentem respeitadas na sua individualidade e podem ser quem são.
Por isso, é necessário que a comunicação respeitosa entre as equipes seja estimulada. Além disso, é importante que as empresas se preocupem em oferecer aos colaboradores(as) a orientação e o conhecimento necessários, para que possam conhecer a origem etimológica de expressões que são usadas até hoje.
Como somos seres sociais e emocionais, tudo o que decidimos, falamos ou gesticulamos tem impacto emocional e produz sentimentos nas outras pessoas. Por isso, é preciso promover a cultura inclusiva dentro das empresas. Esta jornada de transformação leva tempo. Não é feita do dia para a noite. É preciso um esforço consciente das lideranças e das pessoas lideradas para que a transição seja iniciada.
O caminho para a cultura inclusiva levará as empresas a conquistarem benefícios significativos, desde ultrapassarem as metas financeiras, serem inovadoras e ágeis, até obterem resultados de negócios mais impactantes.
E por isso, empatia e respeito são os ingredientes que devem permear o relacionamento de lideranças e pessoas lideradas. Tudo isso porque as pessoas passarão a perceber com mais intensidade o sentimento de respeito e pertencimento, o que elevará o engajamento e a retenção de pessoas talentosas.
*Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada com 14 anos de atuação em Inclusão & Diversidade, escritora, professora da Fundação Dom Cabral, mestra em Sustentabilidade pela FGV. Foi pioneira no tema D&I com o lançamento em 2010 do Super Fórum Diversidade & Inclusão, que está indo para a 11ª edição, e tem como propósito apoiar as corporações a construírem ambientes mais diversos e inclusivos, tornando-as mais inovadoras e sustentáveis.
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