No último episódio do meu podcast, falei ou melhor, desabafei, sobre os diferentes níveis de maturidade profissional na assessoria de imprensa — o júnior, o pleno e o sênior. O episódio foi direto, mas a conversa me deixou com uma inquietação que quero dividir aqui: o pleno se tornou o ponto de maior tensão nas agências de comunicação e PR.
Essa afirmação pode parecer provocadora, e é. Mas não deixa de ser verdadeira para quem está na lida diária com clientes, entregas e gestão de equipe. O mercado está exigente, o tempo está curto e a inteligência artificial chegou para nivelar algumas habilidades técnicas. Nesse cenário, os profissionais plenos que não evoluem travam o fluxo, comprometem resultados e dificultam a construção de um time sólido. E isso não é só no nosso mercado de assessoria de imprensa, viu? É uma dor da grande maioria do mercado.
Com a IA, saber fazer não é mais o suficiente
Hoje, ferramentas como o ChatGPT são capazes de produzir textos razoáveis, sugestões de pauta e até notas à imprensa. Isso tirou da frente o “mínimo técnico” e colocou o foco no que realmente importa: pensamento estratégico, leitura de contexto, capacidade de adaptação e relacionamento. E claro, muito feeling e experiência.
A inteligência artificial não sente o momento certo de um pitch. Não compreende as nuances políticas de uma redação. Não cria relações, não identifica oportunidades espontâneas nem lida com imprevistos com empatia. Tudo isso continua sendo papel do humano – e, cada vez mais, de um humano sênior.
O pleno que não amadurece é um risco
O júnior a gente forma. O sênior é quem nos ajuda a crescer. Mas o pleno… precisa já ter autonomia, visão crítica, domínio da rotina e clareza de onde pode e deve evoluir. O que tenho visto, infelizmente, em entrevistas que faço, é uma zona cinzenta: plenos inseguros que não assumem responsabilidade e plenos autoconfiantes demais que não aceitam feedback.
Isso afeta diretamente a operação. Atrasos, ruídos com o cliente, textos medianos, follow-ups inconsistentes, e principalmente: falta de repertório e estratégia.
Se antes a formação do pleno era apenas uma fase natural da carreira, hoje ela se tornou um desafio organizacional. Muitos líderes não têm tempo ou paciência para formar, e muitos profissionais não têm humildade ou autocrítica para continuar aprendendo.
O sênior ideal precisa de atualização constante
Outro ponto importante: nem todo sênior está pronto para o novo mercado. Experiência sem atualização pode ser tão prejudicial quanto inexperiência. Ainda vemos ótimos assessores que brilham em pautas tradicionais, mas ignoram as exigências atuais: construção de marca, influência digital, eventos, engajamento, cultura pop, narrativas transmídia e outras ferramentas de gestão e produção, como gestor de projetos, apresentações, edições, etc…
O sênior que o mercado precisa hoje não é só o que conhece veículos de imprensa (mas lógico que isso é fundamental). É o que sabe integrar áreas, pensar em reputação e trazer ideias alinhadas com o mundo real do cliente.A assessoria de imprensa não é mais uma ilha: ela está conectada à estratégia de negócio, à comunidade e à percepção pública. Ser sênior hoje é ser um resolvedor de problemas, um articulador de possibilidades e um embaixador de boas ideias. Tudo isso com capacidade de gestão de processos e pessoas.
Como formar plenos potentes e sêniores preparados
Não existe fórmula mágica, mas existe caminho. E ele passa por:
- Acompanhamento próximo e constante, sem microgerenciar, mas sem soltar a mão.
- Trilhas de evolução claras, com objetivos e entregas tangíveis.
- Cultura de feedback real e periódico, direto, sem floreio, mas com acolhimento e direcionamento.
- Repertório ativo: leitura de mercado, trocas, cursos, mentorias e autodesenvolvimento.
- Uso consciente da IA: ela pode apoiar na execução, mas a estratégia continua sendo nossa e mais que necessária para trazer valor ao nosso trabalho.
Profissionais precisam entender que crescer exige entrega, interesse, visão, disponibilidade e escuta. Lideranças precisam entender que formar dá trabalho, mas é o único jeito de criar times consistentes e confiáveis.
Conclusão: só a inteligência humana pode salvar o PR
A inteligência artificial não vai nos substituir. Mas ela vai acelerar a saída de cena de quem não estiver disposto a evoluir. O que o mercado pede não é mais apenas habilidade técnica. Ele quer profundidade, criatividade, empatia, contexto. Seriam as famosas técnicas “comportamentais” produção?
O futuro da assessoria de imprensa é – e será – sênior. Não pelo tempo de carreira, mas pela qualidade da entrega. E, principalmente, pela capacidade de pensar antes de fazer, ouvir antes de falar e conectar antes de divulgar.
O PR não morreu. Ele só amadureceu.
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