*Por Sérgio Tavares de Oliveira, fundador e CEO da Campolink
Ao pensar na agricultura no Brasil, muitas vezes vem à mente a imagem de grandes propriedades com plantações de soja e cana ou criação de gado. No entanto, por suas características econômicas e financeiras, o setor de frutas, legumes e verduras acontece principalmente em pequenas e médias propriedades. Este segmento enfrenta um cenário bastante desafiador, com grande desequilíbrio entre relevância e importância x apoio e capacidade de crescimento.
Os grandes produtores têm musculatura para administrar seus negócios com mais robustez administrativa, financeira e comercial, além de ferramentas de acesso aos financiamentos de safra com garantias a oferecer. Eles têm condições de absorver eventuais impactos financeiros negativos em seu negócio, coisa que para os pequenos e médios pode ser fatal.
Além disso, embora o segmento de frutas, legumes e verduras esteja crescendo, ele vem sofrendo com a pressão inflacionária sobre insumos e embalagens, sem contar as eventuais faltas no fornecimento. Os produtores estão sendo obrigados a desenvolver novos fornecedores e inovar em embalagens feitas com diferentes tipos de produtos.
Por outro lado, o mercado vem enfrentando grande dificuldade para encontrar os mais variados produtos, tanto para consumo quanto para indústria de polpas, sucos e farináceos. Algumas fábricas estão com capacidade ociosa por conta da falta de insumos, e não raramente chegam a ter que rodar 2.000 km para conseguir sua matéria-prima. Ou seja, é imperioso para todos, que se proporcione crescimento de produção dos diversos produtos que são majoritariamente produzidos pelos pequenos e médios produtores rurais.
Um dos maiores desafios está na ponta vendedora, o final da linha que vai definir o futuro do produtor. Isso porque quem produz frutas, legumes e verduras enfrenta grande dificuldade para ter opções na comercialização da sua produção. A dependência de intermediários, falta de condições de acompanhar as entregas, a carência de informações precisas e atualizadas sobre a variação dos preços do setor são alguns dos principais desafios.
Para os produtores não é fácil desenvolver e estabelecer uma relação de confiança com novos compradores e contratar fretes com bons preços e segurança. Para garantir a entrega da sua produção, é essencial que eles tenham acesso a tecnologias de acompanhamento do transporte em tempo real, além de receber apoio operacional nas entregas em todos os Ceasas do país, já que o Brasil possui dimensões continentais e sofre com problemas de infraestrutura, como a qualidade das rodovias. Para os pequenos e médios agricultores, a parte burocrática, que inclui a documentação comprobatória de entrega dos produtos e todos os demais trâmites administrativos e financeiros que envolvem a venda e entrega, podem formar uma barreira considerável. Todo este processo, aliado à impossibilidade de estar presente na entrega da carga, devido às longas distâncias entre os locais de produção e os grandes centros de distribuição e consumo, facilita fraudes e a inadimplência.
Os varejistas e atacadistas que comercializam frutas, legumes e verduras também enfrentam dificuldades, tais como identificar e estabelecer relacionamento com novos e bons fornecedores de produtos e baratear os custos gerados por gargalos logísticos. Além disso, eles muitas vezes são obrigados a fazer compras em volumes maiores do que sua capacidade de venda, gerando desperdício de produtos ou inibindo a possibilidade de desenvolvimento de compra e venda de novos produtos. Desta feita, inúmeros atacadistas sofrem com a falta de oportunidade para comprar produtos em menor escala sem perder competitividade. Isso sem falar da concorrência predatória, praticada por maus players que se aproveitam das fragilidades dos produtores, comprometendo o giro de produtos e a rentabilidade dos estabelecimentos.
Diante das dificuldades, nota-se que a produção de alimentos no Brasil ainda tem muito espaço para crescer com a devida reorganização e choque de gestão do setor. O Brasil é o celeiro do mundo, com economia crescente, e grande espaço para melhorar a qualidade de alimentação de seus mais de 200 milhões de habitantes. Culturalmente, o brasileiro gosta de se alimentar de produtos naturais e está sempre inovando com sucos, bebidas e alimentos tropicais. Se o setor receber a devida atenção, é possível ampliar a produção e sanar as dificuldades dos produtores de frutas, legumes e verduras no Brasil, beneficiando na ponta final o consumidor.
A solução para as dificuldades passa, sem dúvidas, pela tecnologia, pelo uso de aplicativo que facilite a negociação entre produtores e atacadistas, com acompanhamento de entregas e serviço completo de cobrança. Esta reorganização da cadeia somente poderá se tornar viável com adoção de tecnologia de ponta aliada à aplicação de mão de obra intensa e especializada nos mais variados pontos sensíveis deste setor.
Sobre Sérgio Tavares de Oliveira, fundador e CEO da Campolink
Sérgio é administrador de empresas e empreendedor. Atuou durante 12 anos como membro do conselho diretor de uma das principais companhias de apoio portuário do Brasil. Em 2017, mudou de ramo e passou a trabalhar com distribuição de frutas, entrando em contato com os agentes do setor e pesquisando as principais dificuldades de cada um dos elos desta cadeia. A partir destas informações, e percebendo a necessidade de facilitar e fortalecer os negócios para os pequenos e médios produtores, fundou em 2021 a Campolink.
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