Flávia Lima
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), é um problema de saúde que requer atenção não apenas do Brasil, mas de todo o mundo. Por isso, uma data foi estipulada como Dia Mundial da DPOC pela Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Neste mês de novembro, no dia 16, profissionais de saúde e organizações de pacientes de todo o mundo desejam aumentar a conscientização sobre a doença, compartilhar conhecimentos e discutir maneiras de reduzir a incidência e os impactos da doença.
A DPOC é uma doença caracterizada por enfisema pulmonar e bronquite crônica e está presente em cerca de 10% da população e em aproximadamente 15% dos adultos com mais de 40 anos de idade da cidade de São Paulo. A doença está associada, principalmente, à exposição ao fumo, poluição, poeira e produtos químicos. O cigarro é o responsável pela maioria dos casos.
Quem tem DPOC convive com sintomas como falta de ar e tosse crônica. A doença é progressiva e pode ser incapacitante, levando à falta de ar e cansaço ao realizar atividades simples do dia a dia. A prevalência da doença entre os brasileiros é de cerca de 17%. A DPOC é a quinta causa de morte entre todas as idades. Nas últimas décadas, foi a quinta maior causa de internação no SUS. E estamos falando de uma doença altamente subdiagnosticada, de muitos pacientes para poucos médicos especialistas e centros de referência.
Por trás de tantos números, há histórias de vida. Há solidão e desamparo. Há sofrimento social. São afastamentos por doença no trabalho, aposentadorias precoces, mortes prematuras. Um sofrimento que afeta a vida de toda a família.
Há um ano, em novembro de 2021, foi publicada no Diário Oficial da União a portaria que aprovou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da DPOC, que não era atualizado desde 2013. Os protocolos são documentos que norteiam o conceito da doença, os critérios de diagnóstico, os critérios de inclusão e de exclusão e o tratamento no SUS.
A lei diz que após essa publicação no Diário Oficial, o governo tem 180 dias para fornecer o tratamento. Ou seja, seis meses. O protocolo aumentou o rol de medicações que podem ser utilizadas no tratamento. Acontece que dez meses depois da atualização do protocolo de tratamento da DPOC, o documento ainda não é realidade em boa parte do país.
Tivemos avanços, é preciso reconhecer. Mas é urgente que as tecnologias incorporadas ao SUS cheguem aos pacientes e possam dar a eles mais qualidade de vida. Vários médicos especialistas com quem conversamos são enfáticos em dizer que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são o segredo para oferecer um melhor cuidado a essas pessoas. É preciso informação e educação, para que as equipes de saúde levem em consideração a história de exposição à fumaça quando o paciente apresentar falta de ar, cansaço e tosse. Com o diagnóstico precoce, vamos ao segundo passo: o tratamento individualizado e adequado para cada pessoa. O protocolo de tratamento trouxe um ganho de dispositivos inalatórios e de classes terapêuticas possíveis. A forma como a medicação é disponibilizada ao paciente é um diferencial nas doenças respiratórias. Cabe ao médico, em diálogo com o paciente, adequar o melhor tratamento para cada paciente.
São muitos os desafios para cuidarmos das pessoas que têm DPOC. Como possibilitar que elas tenham acesso à reabilitação pulmonar perto de casa, que não precisem percorrer longas distâncias – muitas vezes, com o cilindro de oxigênio – até chegar a um centro de referência. E também que recebam o tratamento já disponibilizado no SUS.
Para acompanhar a disponibilização do tratamento adequado no SUS, nós criamos uma página especial: http://protocolodedpoc.com.br/. Nela, pacientes, familiares e interessados no tema podem verificar se o tratamento já está atualizado no Estado onde moram e como reivindicar seus direitos junto aos órgãos competentes. A participação de toda a sociedade é fundamental para que as políticas públicas sejam concretizadas e fortalecidas.
Flávia Lima, Presidente da ABRAF
Flávia é jornalista, especialista em Saúde Coletiva e em Comunicação em Saúde pela Fiocruz Brasília e presidente da ABRAF.
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