Eu comecei a assistir à 4ª temporada de Emily in Paris, uma série leve que, confesso, fui assistir para aliviar a mente, não pensar muito, admirar looks legais, estimular a criatividade, pois algumas ações que vemos na série podemos até não conseguir colocar em prática no PR, mas elas nos ajudam a pensar de forma diferente, e, claro, ver Paris — afinal, o cenário da série é de tirar o fôlego.
Apesar de o nome da série e a narrativa girarem em torno de Emily, um detalhe me chamou muito a atenção: a forma como Sylvie, chefe da protagonista, roubou a cena de uma maneira inesperada nessa temporada, demonstrando sua vulnerabilidade. Eu já a achava incrível, pois ela é uma mulher forte, sensual, muito bem relacionada e no comando da sua própria agência, mas, ao conhecer sua história (da personagem, claro), minha admiração cresceu ainda mais.
Se você ainda não assistiu aos novos episódios, aqui vai um spoiler: enquanto Emily está presa em um triângulo amoroso sem graça — ou ménage à trois, como eles vivem repetindo na série —, Sylvie enfrenta outro dilema: colaborar ou não para uma matéria que pretendia expor os abusos cometidos por seu antigo chefe, um dos maiores magnatas da indústria da moda, contra suas funcionárias. Infelizmente, ela havia passado por isso no começo da sua carreira e nunca havia compartilhado sua história com ninguém. Afinal, eram outros tempos, quando se normalizavam esses comportamentos. Graças a Deus vivemos em uma nova era, não é mesmo?
Assistindo a cada episódio, você entende por que essa não é uma decisão fácil de tomar, existem diversos aspectos que ela precisa considerar, incluindo acabar com seu casamento e ver sua carreira desmoronar. Eu fiquei a temporada toda esperando para descobrir qual seria a escolha dela. Diante dessa decisão difícil de compartilhar ou não sua história e mostrar sua vulnerabilidade, algo que ninguém esperava de uma mulher tão forte. Ela decide romper o silêncio quando descobre que outras mulheres ainda passavam por isso, percebe que precisava fazer algo e romper com este ciclo.
Esse momento me trouxe muitas reflexões, especialmente porque trabalho com uma cliente incrível, a Cris Kerr com quem aprendo todos os dias. Recentemente, ela lançou um livro sobre assédio sexual, um tema que não podemos, de jeito nenhum, deixar cair na normalidade.
Vou compartilhar um exemplo que ouvi em um evento da Cris que me marcou bastante. Um diretor, em uma reunião só de homens, comentou quando uma mulher diretora entrou: “Ah, chegou uma mulher para dar um colorido na nossa reunião.” Pode parecer uma piada boba, mas o comentário deixou a diretora completamente sem graça e não tinha nada de inofensivo. Nós mulheres sabemos como essas brincadeiras soam desagradáveis e a conotação que cada palavra “engraçadinha” carrega.
Elogios inadequados, convites desconfortáveis ou qualquer atitude que ultrapasse limites simplesmente não podem ser normalizados. Assim como Sylvie fez, acredito que precisamos nos posicionar e falar sobre essas situações, seja no trabalho ou fora dele. Não importa se estamos em um ambiente majoritariamente masculino; o respeito deve prevalecer sempre. Precisamos ter coragem de romper com esse ciclo. Sei que muitas mulheres se sentem envergonhadas ou até mesmo culpadas quando passam por esse tipo de situação, mas precisamos entender que isso não tem nada a ver conosco. Não é nossa culpa; pelo contrário, a culpa é de uma sociedade machista que normalizou o assédio e fez com que alguns homens em situações de poder se sentissem confortáveis em ultrapassar os limites das pessoas.
Com tudo isso, Sylvie conquistou ainda mais meu coração nessa temporada. Ela não só enfrentou seus próprios dilemas, mas também nos mostrou que ser vulnerável pode ser uma grande demonstração de força. É uma lição que levo comigo, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Não interessa o contexto, todos precisam entender a importância do respeito e dos limites.
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