As escritoras Vivian Vicente e Luanda Martins Campos encontraram nos livros uma forma de se expressar e transmitir a tradição oral africana, atingindo os leitores por meio da plataforma UICLAP
Vencer as barreiras impostas pelo racismo não é fácil. Tanto pela falta de representatividade, quanto pelo preconceito e pelas crenças limitantes, que tornam muito difícil para a população negra conquistar seus espaços de direito na sociedade. A escrita, o estudo e as artes são grandes aliados na hora de quebrar essas correntes, como mostram as trajetórias de Vivian Vicente e Luanda Martins Campos. Ambas lançaram suas obras pela UICLAP, plataforma democrática de publicação e venda de livros, e utilizaram as suas vivências pessoais como inspiração para escrever.
Betinho Saad, CEO da UICLAP, afirma que o objetivo da plataforma é ser um espaço democrático, que permita que todos conquistem o sonho de ser escritores e terem suas obras publicadas: “O mercado editorial tradicional possui uma série de amarras que muitas vezes impedem que as pessoas tenham voz. Na UICLAP, isso não acontece. Abrimos espaço para que grupos até então marginalizados possam se expressar, contar suas histórias. Ver escritoras negras talentosas brilhando nos enche de satisfação. E não são só elas. Temos muitas histórias de superação e conquista por meio da publicação de livros”.
Luanda é pedagoga, professora da educação básica em São Luís, Maranhão, além de militante do Movimento negro e contadora de histórias pretas. Mestra em Gestão de ensino da educação básica, já havia publicado artigos e capítulos de livros como pesquisadora e decidiu investir na escrita popular usando a linguagem infantil. Assim nasceu sua obra “Na casa da vó Bá”, publicada pela UICLAP, em que resgata sua infância, que passou na casa da avó quilombola. O livro traz suas memórias das tradições orais africanas e atinge pessoas de todas as idades, incluindo o espaço acadêmico das universidades.
Seu foco de estudos desde a faculdade é a educação ancestral baseada na oralidade africana. “Ao decidir por esse tema, minha vó disse que essa era nossa obrigação, devido à escravidão e a marginalização da nossa cultura. Nós que tivemos acesso à educação teríamos o direito de contar a nossa história. Ela faleceu antes da minha formatura da graduação e por isso, tudo que escrevo leva o nome dela direta ou indiretamente. Entrei no movimento negro no ano de 2004 por conta da pesquisa e permaneço até hoje, tendo a educação como instrumento de luta”, conta Luanda.
A jovem Vivian Vicente de 21 anos teve uma vivência diferente, mas também encontrou na escrita uma forma de libertação. Formada em Teatro pelo Macunaíma, frequentou os melhores colégios, cursos de inglês e teatro, mas sofria com a falta de representatividade: “Sempre em uma sala de trinta, eu estava sozinha como negra e isso afetou muito a forma como eu me via. Sempre quis mudar meu cabelo, tentar ser como as meninas brancas, com o jeito e os traços delas”.
Vivian estudou durante cinco anos no Teatro Escola Macunaíma, onde aprendeu as estruturas básicas do storytelling. Assim desenvolveu a ideia de escrever e aos 18 anos, publicou sua primeira obra, “BlessedGround: Os quatro elos”, pela UICLAP. “O livro narra a aventura de uma princesa herdeira do reino de BlessedGround que cresceu em uma bolha, sem compreender as mazelas do mundo real. Mas quando começa a sofrer perdas de suas pessoas mais queridas, ela se vê obrigada a amadurecer a enfrentar a mais dura realidade”, explica a escritora.
Vivian cursa hoje o último ano de Publicidade e Propaganda da Cásper Líbero, é coordenadora de comunicação em uma organização que trabalha em prol da equidade racial nas empresas e está escrevendo a continuação do primeiro livro, que deseja publicar pela UICLAP. “Depois de publicar lá me tornei a própria propaganda da UICLAP! Indico de olhos fechados, não tem nada nesse processo que não seja simples e intuitivo, sem contar o tempo de resposta surpreendente. Sem a UICLAP, nunca teria meu livro nas mãos e não teria tanta gente dizendo que foi tocada por ele, de diferentes formas. Ela me deu o gás que eu precisava para entender que sou sim uma escritora e que meu potencial está longe de ser explorado ao máximo”, conclui Vivian.
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