*Por Márcia Tolotti
A Páscoa representa um momento de passagem para os gregos, de renascimento na cultura judaica e de fertilidade para os egípcios. Mas, na sociedade em geral, representa um domingo recheado com muitos doces, inúmeros ovos de chocolate e algumas dívidas no bolso. Agora na pandemia, então, a situação se complica ainda mais, com o isolamento, o desemprego e a alta dos preços.
De acordo com a Abras – Associação Brasileira de Supermercados, os ovos de Páscoa ficaram em média 11% mais caros neste ano, assim como os bombons e barras de chocolate, que tiveram um aumento de 10% em seus preços. Esta alta, somada a uma média prevista de 14,6% de desemprego para este ano (contra 13,5% no ano passado) demonstram a importância de maneirar nas compras para esta Páscoa.
São comuns as dívidas financeiras por parte daqueles que comprarão parceladamente ou utilizarão algum tipo de crédito e, dívidas afetivas, para os pais que porventura não conseguirem comprar nada. Estes, muito provavelmente, serão invadidos por um sentimento de culpa para com seus filhos.
Mas afinal, o que é a Páscoa? Basta entrarmos em um supermercado, para descobrirmos os segredos da toca do coelho. Corredores cuidadosamente construídos com ovos formam um túnel – e não há como fugir deles – que combinados com o fantástico cheiro de chocolate e, com alegres coelhos espalhados por todos os lados, proporcionam uma incrível experiência sensorial.
Atualmente, comprar não é mais um simples ato, mas uma experiência adquirida. A visão, o olfato e o tato agarram o consumidor com sutis e poderosos tentáculos.
E assim, mais do que vida e fertilidade, a Páscoa parece estar se transformando na renovação de algum endividamento. Em um cenário de grande crise econômica, o perigo é ainda maior.
Considerar informações, conversar com os filhos, buscar alternativas menos onerosas, dizer não, transformar dados estatísticos em visão crítica e motivar para escolhas equilibradas, pode ser a verdadeira renovação da Páscoa.
Entre as principais dicas para fugir do consumismo da época estão evitar a exposição dos pequenos à publicidade. Caso não seja possível evitar, vale conversar com as crianças, explicar que as propagandas não correspondem à realidade e ajudar a criar pensamento crítico nas crianças ao mostrar as mensagens subliminares contidas na publicidade. O mesmo vale para influenciadores mirins, que costumam fazer vídeos mostrando os brinquedos.
Trocar os chocolates industrializados por opções artesanais e fazer os ovos em casa são boas substituições, que ajudam a economizar, a conscientizar os pequenos e auxiliam os microempreendedores que têm na venda de doces sua alternativa de renda. Além disso, vale mostrar para as crianças que a Páscoa não é gastar com brinquedos caros ou se entupir de chocolate, mas sim um momento de brincar e de reforçar o espírito de renovação, de novo começo e de esperança.
*Márcia Tolotti é psicóloga e psicanalista, consultora e especialista em educação psicofinanceira pessoal e corporativa. Já publicou sete livros sobre autoconhecimento e mercado psicofinanceiro, como ‘O Desafio da Independência – Financeira e Afetiva’, que já teve mais de 50 mil exemplares vendidos, e ‘As Armadilhas do Consumo’. https://marciatolotti.com.br/
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