*Por Márcia Tolotti
Não é de hoje que o ser humano foi se transformando em um sujeito atópico, com dificuldade de encontrar seu lugar e com uma sensação de inconsistência. A pandemia exacerbou os sentimentos de insegurança, demonstrando ainda a tendência ao individualismo, que sempre existiu e vem se tornando um mal ainda maior no século XXI. O isolamento demonstrou o quanto o contato com o outro é fundamental.
Vivemos em uma sociedade e uma cultura que nos forçam a perseguir um ideal irreal de felicidade. Sem facilidade de dizer Não para situações de “suposto” prazer, fomos nos tornando reféns de ilusões e fantasias de felicidade plena. Passamos a usar como parâmetro de certo, errado ou merecimento quase que exclusivamente nosso ponto de vista. A individualização extremada nos tornou os “únicos e infalíveis juízes” das mazelas da humanidade ou daqueles que nos rodeiam.
Mas quando se trata de saúde mental, como estamos reagindo? Tendemos a pensar que normalidade está ligada à saúde e que anormalidade está ligada a doença. Até pouco tempo atrás os transtornos mentais eram vistos como demonizações. Era natural haver uma exclusão dessas pessoas e como herança cultural carregamos esse estigma, ainda que mais ameno, até hoje.
Atualmente encontramos formas variadas de adoecimento emocional, mas com o advento da pandemia causada pelo Covid-19, um ponto se tornou comum: as pessoas estão sofrendo muito. Houve um aumento expressivo de doenças psicossomáticas. Somente os casos de depressão somam 11 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mas afinal o que acontece com uma pessoa depressiva? A pessoa possui uma lógica de pensamento de que nunca vai conseguir mudar. Se instala uma inapetência para viver, uma impossibilidade de desejar e de agir. Há um sentimento de incapacidade gerando um esgotamento e uma profunda angústia que impede a pessoa de levantar da cama e, muitas vezes, é somente pelo trabalho que ela sai de casa.
Agora se a pessoa já vivenciava um quadro depressivo e perdeu o emprego, a depressão se intensifica. Sabemos que o trabalho não tem apenas a função de garantir uma remuneração financeira, ele também constrói uma autoimagem positiva.
O que fazer? O primeiro passo é procurar um especialista: psiquiatra, psicólogo ou psicanalista. Avaliar a necessidade de medicação e análise/terapia. São necessárias ainda outras ações para que a vitalidade volte a habitar a pessoa e para isso acontecer exercícios físicos são extremamente importantes.
Se a mão invisível do Covid pesou sobre nós, também descobrimos a força da cooperação, o respeito pela ciência, a virtude pelo autocuidado, a suportabilidade da incerteza e a alegria daquilo que de fato tem valor na vida: saúde, família, amigos, disciplina e determinação de hoje sermos uma versão melhor de quem fomos ontem.
*Márcia Tolotti é psicóloga e psicanalista, consultora e especialista em educação psicofinanceira pessoal e corporativa. Já publicou sete livros sobre autoconhecimento e mercado psicofinanceiro, como ‘O Desafio da Independência – Financeira e Afetiva’, que já teve mais de 50 mil exemplares vendidos, e ‘As Armadilhas do Consumo’. https://marciatolotti.com.br/
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