* Por Julia Maggion
Em junho deste ano Marcello Palazzi e Leen Zevenbergen realizaram o evento B For Good Leaders. Ambos estão envolvidos com a estruturação e promoção do Movimento Global das Empresas B na Europa. “All together we are” ou “todos estamos juntos”, é a frase que pode expressar de forma completa o sentimento de pertencimento e co-responsabilidade entre os participantes. Foram três dias intensos de palestras, sessões de discussões, trabalho profundos e encontros para que mais de 600 pessoas de todo o mundo tivessem oportunidades de fazer negócios.
Esse foi um dos encontros de empresas de impacto mais empolgantes. Além de ter sido realizado em Roma, com toda a sua imponência e história marcante como antigo centro do Império Romano, o evento não somente utilizou o lindo auditório do Palazzi de La Musica, mas também se expandiu para vários pontos históricos da cidade. O evento realmente deu aos participantes a oportunidade de se integrarem à cidade, em sessões promovidas ao ar livre, por exemplo na Piazza Navona ou em um barco no Tevere. Mas mais do que isso, esse incrível encontro recebeu especialistas de diversas origens, setores e indústrias, todos trabalhando em prol de um ideal comum, confirmando assim a potência da diversidade. Para que a mudança sistêmica aconteça, precisamos romper os silos, os nichos, os grupinhos fechados e entender que, de fato, todos estamos juntos em um só planeta. Somos seres globais.
Em 2014, foi realizado um encontro com cerca de 12 pessoas junto com Bart Houlahan e Jay Coen Gilbert, fundadores do B Lab e Movimento Global das Empresas B, em Bogotá, para pensar na expansão do Movimento. Eu estava lá, junto com Marcello Palazzi e um time de pessoas maravilhosas, os primeiros entusiastas, líderes envolvidos na missão de transformar a economia global e fazer parte do que seria hoje o maior movimento de negócios de impacto do mundo. Em oito anos, mais de 5000 empresas aderiram ao movimento, buscando entender, através da ferramenta de impacto B, qual a sua pegada ambiental, social, de governança, de modelo de negócios. O ESG, que todo mundo fala hoje, está sendo trabalhado pelo B Lab com maestria desde 2006.
A mudança dos sistemas econômicos é necessária e ela está acontecendo. A visão coletiva desse Movimento é a da criação de uma economia inclusiva, equitativa e regenerativa. O próximo passo nesse processo é espalhar essa mensagem e fazer as lideranças regenerativas acontecerem de verdade.
Economia Regenerativa, Finanças do Bem, Liderança e Ativismo Corporativo foram os quatro grandes temas do evento em Roma. Foram trabalhados de forma profunda e integrada, por nomes como Hunter Lovins (Presidente do Natural Capitalism Solutions), Emmanuelle Wargon (Ministro da Habitação da Itália), Alexia Michiels (The Resilience Institute), Bertrand Badré (BlueOrgange Capital), entre muitos outros mestres.
A onda da Economia Regenerativa definitivamente chegou. Não basta sustentar, temos que regenerar, e as empresas têm um caminho desafiador e promissor nesse sentido! Os primeiros e grandes passos: 1. Meça seu impacto; 2. Neutralize ele para zero; 3. Produza impacto positivo. Regenere. Essa é uma jornada de profunda transição que a nossa sociedade começa a viver por urgência e necessidade, mas que está claro que já temos a capacidade de compreendê-la para criar as soluções certas.
O poder da economia regenerativa está aí, através de soluções de mercado baseadas na natureza, que o consumidor quer e entende. Para isso, precisamos ampliar o nosso conhecimento sobre as métricas que amparam essa dinâmica. O único caminho é aumentarmos os standards aos quais as empresas são submetidas, seja pelo governo ou pela sociedade, e para isso, todo o sistema de contabilidade precisa incentivar as empresas para seguirem por um caminho melhor. Calcular e mensurar o valor da regeneração.
É aí que chegamos às Finanças do Bem. Os investidores têm um papel fundamental nesse processo. Como eles podem incentivar as empresas a terem standards regenerativos? A adicionar mais do que extrair dos ecossistemas? Quais os incentivos ou subsídios que devem ser promovidos? Aqueles que são dados à agricultura convencional, que segue avançando fundamentada nos mecanismos degenerativos, ou aos novos modelos que estão prontos para expandir? Resultados sustentáveis são os outcomes de sistemas regenerativos, é assim que a natureza funciona. Essas foram algumas das perguntas feitas ao longo dos debates e workshops em Roma. É tempo de fazermos perguntas.
Precisamos nos desafiar como Lideranças. Como podemos criar as capacidades para mapearmos e administrarmos a complexidade em que vivemos? Precisamos de lideranças que tenham a capacidade de se comprometer com esse propósito. Que assumam: eu venho com um propósito. E que criem caminhos para que as empresas sejam a forma mais potente de gerar vida e de dar sentido à vida das pessoas conectadas a ela e a todo o sistema vivo do qual ela faz parte. É uma mudança de paradigma do crescimento quantitativo e qualitativo ao crescimento seletivo.
Aí chegamos ao ponto máximo do evento: nós precisamos de uma mudança radical. Radical Change foi a frase de ordem. E nós precisamos dela agora. As empresas são e devem ser as ativistas desse movimento. O Corporate Activism ou Ativismo Corporativo foi apropriado de uma tal maneira pelos empreendedores, CEOs, executivos que ali estavam que o final do encontro tinha ares de final de copa do mundo. Não é todo dia que você escuta o Emmanuel Faber, CEO da Danone dizendo que “é no solo que todo o movimento da vida começa, e que a agricultura regenerativa vai mudar a forma como produzimos e consumimos alimentos, e que esse é ponto mais crítico para a transformação que precisamos”. Ou então o Paul Polman empenhado em promover uma aliança global de pessoas e do planeta para criarmos comunidade e parcerias. Que estamos vivendo uma crise de segurança alimentar e uma crise do ego e que precisamos ter coragem o suficiente para admitir que cada um de nós tem responsabilidade sobre o que acontece no mundo.
How radical can you be as a corporation? Quão radical você pode ser como uma corporação? Não é opcional, precisamos nos mover, agora.
*Julia Maggion é CEO e cofundadora da Ateha, hub de impacto para soluções climáticas. Formada pela Faculdade de Administração de Empresas da FEA – USP, atuou em gigantes como Citibank e Alpargatas. Engajada em temas ligados à inclusão e sustentabilidade, empreendeu com a criação de empresas que geram impacto positivo, como a Plura, que oferecia treinamentos, mapeamentos e processos de aprendizagem. Faz parte da Guayaki Yerba Mate, companhia voltada para a preservação da Mata Atlântica que produz bebidas a partir da Erva-Mate. Integra o Sistema B, organização que impulsiona o Movimento Global das Empresas B, ou B Corps, na América Latina. Criou a Ateha em 2021, com o objetivo de participar ativamente da construção do ecossistema de negócios de impacto climático no Brasil.
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