*Por Andrea Rios
O anúncio da transformação do Facebook em Meta e o novo metaverso criou uma onda de entusiasmo. Diversas empresas se apressaram em marcar presença neste novo universo, que promete fundir o digital e o físico. Marcas como Coca-Cola, Walmart, Bulgari, Renner, Lojas Americanas, entre muitas outras, lançaram lojas e produtos no metaverso. Mas o que ele irá de fato significar para o mundo do trabalho, para os negócios e para o consumo?
A verdade é que nós não sabemos com certeza. Mas temos pistas. A primeira delas é que ele não substituirá o universo físico e real. Irá proporcionar uma experiência mais realista do mundo digital, permitindo imersão e uma coleta de dados mais acertada, além de reduzir as necessidades de deslocamentos e, consequentemente, os custos de forma geral. Mas não irá substituir o contato olho no olho, a percepção da linguagem corporal, as emoções e sensações do encontro real. A experiência de ver, testar, tocar e cheirar um produto continuará sendo importante. A vivência da experiência é cada vez mais valorizada. Essa é das razões pelas quais marcas nativas digitais também investem em lojas físicas. A própria Meta está abrindo uma loja física para vender seus dispositivos de AR/VR para possibilitar o acesso ao metaverso.
Ele irá ajudar nas reuniões e trocas profissionais. Vai além das reuniões por Zoom, das mensagens de WhatsApp, e-mails, chats e redes sociais. Imagens, vídeos, textos, dados e sons serão transmitidos de forma muito mais eficaz. O metaverso também será uma boa ferramenta para contratação de profissionais, permitindo conhecê-los melhor antes de contratá-los. Mas, novamente, nada substitui o olho no olho. A melhor forma de interação será nos escritórios e sedes físicas, ainda que em espaços reduzidos, voltados para encontros e reuniões presenciais.
É preciso atentar que a tecnologia do metaverso ainda não está pronta. Por enquanto, ela é formada por plataformas individuais que não se conectam. O usuário precisa criar contas específicas e separadas em cada uma delas. De acordo com um estudo da Gartner, o metaverso não estará pronto até, pelo menos, 2030. Ele deverá se desenvolver em três fases: surgimento, avançado e maduro. Estamos bem no começo.
Na fase de surgimento, que deve acontecer em 2024, as oportunidades diretas ainda devem ser limitadas. O mercado estará testando aplicativos e cases para longo prazo. A maioria das utilizações serão inspiradas em situações atuais, como uso de VR e AR. Neste começo, serão usadas tecnologias que não são diretamente ligadas à criação do metaverso, como navegação autônoma. No metaverso avançado, que deve acontecer entre 2024 e 2027, ele deve ser utilizado de maneira direta, sobretudo para a área de dados e analytics. Neste cenário entra a tecnologia combinatória, que reúne o mapeamento do ambiente físico e a democratização da criação de ambientes virtuais. Negócios devem surgir para novos aplicativos e formas de interação. Aí começa a surgir a infraestrutura voltada realmente para a plataforma. Já no metaverso maduro, que deve começar em 2028, seu potencial se tornará muito mais claro, assim como o que é necessário para o seu amadurecimento. Tudo que foi desenvolvido anteriormente será aprimorado com novas tecnologias. Surgirão oportunidades na área de infraestrutura, onde se concentrará a competição entre as empresas.
Mesmo antes do funcionamento pleno do metaverso, surgem questionamentos em relação à sustentabilidade. Uma única transação com a Etherum, que é uma das principais bitcoins utilizadas no metaverso, consome mais energia do que uma família americana usa em mais de uma semana. Algumas empresas já estão sendo acusadas de fazer o chamado “Metawashing”, que ocorre quando uma marca gasta mais tempo e dinheiro vendendo produtos virtuais e NFTs como sustentáveis, do que realmente minimizando seu impacto ambiental.
É o caso da Adidas, que assumiu os compromissos de reduzir seu consumo de água em 40% e neutralizar suas emissões de carbono. Porém, vendeu 30 mil NFTs com a Etherum, gastando uma enorme quantidade de energia. Outras empresas já estão aplicando a sustentabilidade no universo virtual. A marca de luxo Guerlain lançou uma coleção de NFTs de 1.828 “criptoabelhas” para financiar a conservação da biodiversidade. Essas vendas foram utilizadas para apoiar um projeto de preservação da reserva natural Vallée de la Millière, na França.
Mesmo com tudo isso, as empresas não devem esperar o pleno desenvolvimento da tecnologia para pensar em suas estratégias. Elas devem começar agora. As principais dicas para isso são: a) Analisar os estágios de evolução do metaverso para ver qual deles oferece maior vantagem competitiva; b) Olhar o metaverso sob três aspectos: tipos de interação, novos conteúdos e infraestrutura (tendo em mente as operações peer-to-peer); c) Acima de tudo, pensar o quanto o metaverso está relacionado com o perfil da empresa e sua estratégia. Qual será o melhor caminho a percorrer? Como será o dia a dia das empresas e das pessoas neste novo universo? Veremos.
*Andrea Rios é especialista em Omnichannel, fundadora da Orcas e professora no MBA Live da Fundação Getúlio Vargas. Com passagens por multinacionais como Unilever, Samsung e Motorola, criou o exclusivo Índice Omnichannel, para ajudar empresas dos mais variados tamanhos e segmentos a avaliar seu estágio na transição Omnichannel. Atualmente, oferece soluções para experiência do cliente que trazem crescimento e lucro para diferentes negócios. Entre elas estão marketing multifuncional, Omnichannel integrado com vendas, supply chain e tecnologia.
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